Pereira deixou o cargo na Record para assumir a presidência do PRB, sucedendo um ex-executivo da Record, o deputado federal Vitor Paulo (RJ).
"Me afastei de verdade [da Record]", diz, apesar de participar de encontros políticos na emissora. Na semana passada, havia agendado uma conversa na quinta-feira com o prefeito de Belém, Duciomar Costa (PTB), na sede da Record, em reunião marcada pelo diretor-executivo da Record em Belém. "[O prefeito] queria conversar também com o presidente da Record. Foi para facilitar a agenda dele", explicou dias antes do encontro, que foi remarcado. "Vou institucionalmente, mas não tenho participação executiva [no grupo de comunicação]".
Nos nove meses à frente do PRB, Pereira tem usado seus contatos em meios de comunicação para divulgar o partido. "Tenho muitos amigos, tanto na Record quanto nas afiliadas no Brasil todo. Acho que isso me ajuda", diz.
O presidente do PRB promoveu mudanças no comando dos diretórios, colocando pessoas de sua confiança, muitas delas ligadas à Record. Todos os dirigentes são escolhidos por Pereira, já que o partido é composto somente por comissões provisórias.
Recém-empossado, o presidente do diretório estadual de São Paulo, Vinicius Carvalho, foi diretor-executivo da emissora. O presidente do municipal, Aildo Carvalho, também teve cargo de chefia na Record. No Ceará, Pereira nomeou presidente do diretório estadual o empresário Miguel Dias de Souza, do setor de comunicação. Souza é presidente da TV Cidade, afiliada à Rede Record no Estado, dono de emissoras de rádios e segundo suplente do senador Eunício Oliveira (PMDB). "São pessoas com quem convivi durante anos em minhas passagens pela Rede Record. Me sinto ao lado de amigos", comenta.
O presidente do PRB fez mudanças também em Santa Catarina, dando posse ao bispo Jerônimo Alves, da Igreja Universal do Reino de Deus. No Espírito Santo, também colocou um político de sua confiança e nomeou o radialista Fernando Mendes.
Pereira diz que ainda "não teve tempo de pensar" se vai manter a estrutura de comissões provisórias, que concentra poderes na direção partidária e faz com que o presidente escolha as direções.
No comando do diretório do Rio está outro conhecido de Pereira dos tempos de Record, o deputado Vitor Paulo, a quem sucedeu na presidência do PRB. O parlamentar foi executivo da emissora em Brasília, São Paulo e Rio e diretor de rede em São Paulo. Vitor Paulo foi convidado a ingressar na Record quando era do PSDB e integrava o governo de Marcello Alencar no Rio.
A transformação do PRB em uma espécie de partido dos comunicadores foi reforçada na gestão de Pereira. O presidente da legenda associa isso ao fato de ter sido executivo da Record durante dez anos e explora sua facilidade de falar com afiliadas e emissoras em todo o país. Com isso, ele mesmo marca diferença em relação ao seu antecessor. "O Vitor Paulo também foi executivo da Record. Talvez tenha ficado pouco tempo e não teve tempo de criar laços de amizade".
A cúpula do partido tem outros políticos ligados à emissora.
O atual líder da bancada na Câmara, bispo Antonio Bulhões (SP), foi apresentador por nove anos do "Fala que te escuto", "hit" da programação evangélica da emissora, e de um programa na Record News. O presidente do Conselho de Ética, deputado federal George Hilton (MG), também apresentou programa na emissora, em Minas. O senador Marcelo Crivella (RJ), integrante da Executiva, é sobrinho do bispo Edir Macedo, dono da Record.
A principal aposta do PRB na eleição municipal deste ano também é ligada à emissora. O ex-deputado Celso Russomano, apresentador de um quadro em um programa da Record, lidera as pesquisas de opinião do Datafolha, com cerca de 20% das intenções de voto na disputa pela Prefeitura de São Paulo.
Foi na Record que Pereira e Russomano se conheceram. "Fui contratado para mudar a cara da emissora e de lá para cá nossa amizade só se fortaleceu", lembra o ex-deputado. Os dois se reencontraram em meados do ano passado, no aeroporto, pouco tempo depois de Pereira ter assumido o comando do PRB. O dirigente partidário convidou o ex-deputado a mudar do PP do deputado federal Paulo Maluf (SP), onde estava isolado e sem legenda para disputar a prefeitura, para o PRB. A migração se deu em setembro e em dezembro o ex-parlamentar estreou um quadro sobre direitos do consumidor na Record. Tanto Russomano quanto Pereira ressaltam, no entanto, que a negociação com a emissora é anterior ao convite para mudar de partido.
O presidente do PRB diz que a candidatura de Russomano é para valer. No caso de eventuais alianças no segundo turno, Russomano diz que poderia fazer acordo tanto com o PSD quanto PT, PSDB, DEM ou PMDB. "Tenho bom relacionamento com todos. Mas minha candidatura está mantida, não tem volta. Aliança só no segundo turno", afirma o pré-candidato.
A pré-campanha de Russomano é comandada por Vinicius Carvalho, presidente do diretório estadual de São Paulo, ex-diretor-executivo da emissora. Ex-deputados, os dois foram contemporâneos na Câmara e atuaram juntos em temas ligados à defesa do direito do consumidor. O pré-candidato quis levar para sua equipe profissionais da emissora e chegou a trabalhar com o diretor artístico Fabiano Freitas, mas o grupo de comunicação o chamou de volta. "Quis pegar mais gente, mas não me deixaram. Disseram que ia desfalcar tudo. Não dá para tirar todo mundo da empresa", comenta Russomano. "Não é à toa que [a emissora] teve esse para crescimento nos últimos anos. É porque tem boas cabeças. Ninguém cresce de graça ou por acaso", diz. "A Record não apresentou ninguém para a campanha. Eu é que tentei tirar de lá. Se eu puder roubar alguém [da emissora para levar para a campanha] eu roubo", comenta o pré-candidato, que apresenta programas nas emissoras Rede Brasil e CNT. A Rede Record foi procurada para comentar a ligacão do apresentador e de ex-dirigentes da emissora com o partido, mas não quis se pronunciar.
A migração de Russomano ao partido faz parte da estratégia do PRB para se alavancar nas próximas eleições com a atração de novos nomes.
O presidente do PRB analisa que a candidatura em São Paulo ajudará na consolidação da legenda. "O partido é mais desenvolvido no Rio, não só pelo fato de o ex-presidente [nacional do PRB, Vitor Paulo] ser de lá e a base dele estar lá, mas também porque [o senador Marcelo] Crivella disputou lá duas eleições majoritárias pelo PRB, em 2006 e 2008", comenta. "Além disso, o nome de Russomano vai manter-se vivo para 2014", diz. Além de São Paulo, as apostas são Macaé e Nova Iguaçu, no Rio, Contagem (MG) e Jaboatão dos Guararapes (PE).
O partido busca também ter mais espaço no governo federal. Ex-presidente do PRB e líder do partido na Câmara até o início deste ano, Vitor Paulo diz que o partido foi o mais fiel na Câmara ao governo. "Mais do que o PT", reforça. Por conta da fidelidade à presidente Dilma Rousseff, dirigentes cobiçam um ministério e cogitam a Secretaria da Pesca, apesar de não ter nenhum aceno da presidente nesse sentido. "Todo partido quer ter seu espaço", diz Vitor Paulo.
O relacionamento do presidente do PRB com Dilma também passa pela Record. As conversas se dão desde o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, quando Dilma era ministra das Minas e Energia e presidente do conselho de administração da Petrobras. Pereira, como executivo da emissora, negociava com ela patrocínio da Petrobras. O relacionamento se estreitou quando Dilma assumiu a Casa Civil. Depois que a petista assumiu a presidência, os encontros tornaram-se mais formais e raros. "É diferente do que era com Lula", diz.
O presidente do partido diz que o PRB tem como desafios além de crescer, desvincular sua imagem da Igreja Universal do Reino de Deus para atrair novas lideranças. O partido, no entanto, está ligado à igreja desde sua fundação. O PRB surgiu a partir do antigo Partido Municipalista Renovador (PMN). Em articulação do senador Marcelo Crivella, do deputado Vitor Paulo e do vice de Lula, José Alencar, morto no ano passado, o PMN se transformou no Partido Republicano Brasileiro (PRB), em 2005. Apesar de ser católico, Alencar foi a principal liderança do partido controlado por bispos evangélicos.
"O partido nasceu com duas marcas: o partido do José Alencar e da Igreja Universal. É assim que a imprensa trata", diz Pereira. "O Zé Alencar faleceu. Ainda temos legados, aquela coisa do Alencar, mas com a morte dele o partido ficou conhecido como o partido da Igreja. O meu desafio é esse".
Ligado à igreja, o ex-presidente da legenda Vitor Paulo reclama do "rótulo" que conferem ao PRB. "Não perguntavam ao Alencar se ele era evangélico. Ele diria que não era, porque era católico, mas diria: 'qual o problema se eu fosse?' O partido não tem nada a ver com a igreja. Nenhum vínculo", diz o fundador da legenda.
O atual presidente da sigla conta que, por curiosidade, colocou seu nome no Google e encontrou uma imagem que mostrava a triangulação entre a Igreja Universal do Reino de Deus, a Rede Record e o PRB. Junto à imagem, diz, tinha uma análise mostrando ligações entre ele, ex-executivo da Record, a Igreja Universal e Marcelo Crivella, sobrinho de Edir Macedo, dono da emissora e um dos fundadores da igreja. Ao contar o caso, Pereira não nega nem confirma a análise. "Sei que vai ser quase impossível desvincular essa imagem. Quem sabe no futuro?"